Vocais dos Mitos fala da vida moderna, seja pela evocação da tecnologia em Nem um pouco, seja pelos olhos de uma São Paulo ou pela dureza, pela crueza d'A estrada reta. Mas, antes e mais do que qualquer outra coisa, o livro fala de amor e de poesia. Há um Multicor, numa manifestação do mais puro gozo, expressando a perenidade de um sentimento que não se contenta com a solubilidade do guardanapo de papel e se prega, como palavra e definitivamente num guardanapo de pano. Há também a possibilidade do papel perene, aquele que registra a poesia, a arte, o eu, como em No papel de nossas vidas, na captação de um átimo, em Pequena poesia, ou no poema que desmaterializa, pela palavra no papel, as fronteiras entre fantasia e realidade, em Sonho.
Há ainda a certeza do amor na sensualidade de Olhos de lince, olhos que enxergam o corpo e buscam a alma. O autor preenche os poemas de desejos e anseios puramente sensoriais, emocionais, humanos; um Ser-Poesia povoa as páginas, metatextos que "lavam a alma, em Ilustre poeta que pulsam na voz de um bardo em Teu calor é fogo...", que "levam a calma", em Simples Solfejo, ou que fazem voar, em Veia e Sangue. Acima de tudo, o livro de George Farias traz em si as vozes daquilo que não se vê, mas se sente, do que não se tem, mas se pressente, do que nunca existiu, mas se sabe que está lá. São os Vocais dos Mitos, vozes que invocam rituais de amor, Árias de Bach cantadas no ouvido, reunindo em um poema, as Imagens que constroem e se constroem ao longo de todos os outros poemas desta obra sensível e madura.
Professora Doutora Cátia Monteiro Wankler