Qual a relação entre a vida e a obra de um grande filósofo? Em Vidas investigadas – de Sócrates a Nietzsche, o norte-americano James Miller encara esta questão espinhosa à própria filosofia, contextualizando as ideias de 12 grandes pensadores num texto rico em detalhes e acessível a todos os públicos. Elogiado pelo The New York Times Review of Books, o livro mostra como viveram Sócrates, Platão, Diógenes, Aristóteles, Sêneca, Agostinho, Montaigne, Descartes, Rousseau, Kant, Emerson e Nietzsche e revela como o pensamento de cada um reflete suas escolhas de vida e, não raro, como as contradiz.
Desde o início, a escolha do tema do livro por si só já se mostra interessante e corajosa, por mostrar que o filósofo, além de uma pessoa de carne e osso, é também um personagem histórico, inserido em uma certa tradição, com suas preferências e seus preconceitos. E, com toda sensatez, o autor acompanha a biografia de cada pensador no intuito, não de reduzi-lo a um mero contexto histórico, mas justamente para mostrar a singularidade e a originalidade de seu pensamento, partindo de sua gênese. Assim, de acordo com a exposição do autor, o pensamento de cada filósofo vai ficando familiar ao leitor conforme o livro é lido, tornando o recurso da apresentação biográfica uma ferramenta impressionante de ensino e de familiarização com pensamentos tão complexos.
A partir do pressuposto de que a característica intrínseca dos filósofos é o espanto, Vidas investigadas se apresenta ao leitor como uma instigante ferramenta de autoquestionamento. Miller vê na vida dos filósofos, destes que se espantaram, se deixaram espantar e que tentaram, além de tudo, ensinar isso como modelo de vida, a chance de escapar do imediatismo e da superficialidade da qual padece.