A presente obra de Filóstrato seria uma mostra paradigmática do antigo gênero sofístico tanto mencionado por ele, o qual, herdeiro da tradição oral dos poetas e dos mânticos, faz plasmar realidades a partir de inspiração e peripécias linguísticas. Trata-se de um gênero panteísta, pois não há como limitar um orador no ato de performar um discurso. Tudo pode acontecer em uma improvisação discursiva, de comédia à tragédia, de epopeia a exercícios retóricos e judiciais. Além disso, como ficará evidente, Filóstrato também se vê obrigado a fundamentar, de algum modo, sua teoria sofística. Para construir hipóteses sobre a diferença entre a filosofia e a sofística, ele faz uso da linguagem filosófica (sobretudo antes de começar a apresentar sua galeria) e, assim, buscando bases culturais e históricas, elabora, de maneira bastante breve, no início de sua obra, um texto filosófico, científico e histórico. Heterogêneo, seu texto também se constitui como uma miscelânea literária recheada de anedotas realísticas. Observada em sua totalidade, a obra não se enquadra em nenhum gênero específico; Filóstrato faz com que, ao contrário, os diversos gêneros se enquadrem em sua galeria realística, erudita, política e anedótica.