O livro ‘A vida é um sorvete derretido’, composto por 56 crônicas de Flávio Sanso, é uma tentativa de refrescar-se, um pequeno deleite em meio ao cotidiano, um ponto de alívio sobre a contemplação de um punhado de possibilidades sobre os rumos urbanos, esse bailado aleatório. As histórias delicadamente contadas são atalhos no tempo, e nós somos puxados como em um “barbante imaginário”, podendo olhar sem demora, degustando “prazer e percalços, euforia e incômodo” como quem se delicia com um sorvete na orla da praia. Transeuntes, vendedores, mães, filhas, passageiros de ônibus, casais, músicos, a tecnologia diária, os cachorros... O invisível se torna protagonista nas esquinas da vida, nos contornos das ruas, nas calçadas que se vão, os meandros do urbano e o cotidiano, visto com acalento e “resistência à decrepitude”.
Flávio Sanso, cronista que já coleciona alguns prêmios, é um observador refinado, um “espião fajuto”, uma espécie de colecionador de curiosidades, que se mantém em movimento, porém numa “contemplação acanhada”. Ao fim de suas pequenas viagens, ele nos presenteia com sabores, entre fôlegos e alívios. A obra é um apanhado “encantadamente peculiar”, algo que se agita, “quer sair, ganhar o mundo, propagar-se por grandes distâncias”, ou talvez só “um olhar distraído para o lado e pronto”.