Após a edição de Livro (s) do Desassossego, a obra da vida de Fernando Pessoa editada como ele sempre quis, a Global lança em março Vida e obras de Alberto Caeiro, editada também por Teresa Rita Lopes, uma das maiores especialistas no autor português. No dizer de Pessoa: [Alberto Caeiro] "nasceu em Lisboa mas viveu quase toda a sua vida no campo"; "morreram-lhe cedo o pai e a mãe" e, por isso "vivia com uma tia velha, tia-avó"; "não teve mais educação que quase nenhuma, só a instrução primária". E acrescenta, invejando-lhe seguramente a sorte de não ter sido obrigado, como ele, à escravatura de um ganhã-pão: "Deixou-se ficar em casa, vivendo de uns pequenos rendimentos". Aduante, comenta: "Pus em Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática." Para entender a poesia de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, impõe-se integrá-la no projecto pessoano do Neopaganismo Português e dos seus cultores: Ricardo Reis, o poeta, Alberto Caeiro, a sua consubstanciação, segundo declaração de Pessoa, e António Mora, o seu teórico em prosa (sociólogo e filósofo). Os três "livros" de Caeiro, nesta obra considerados e assim por Pessoa chamados e previstos, dão notíca dessa vida sem acontecimentos, excepto a "doença" do espisósio amoroso: o segundo "livro", composto por nove poemas. Também o terceiro "livro", "Andaime – Poemas Inconjuntos", segue, como um diário, a evolução de uma doença, neste caso a tuberculose, que o vitimou. "O título Vida e obras nunca foi usado por nenhum editor. Resgatei os poemas das deformações que têm sofrido e articulei diferentemente os poemas do último "livro", atendendo não às suas datas reais mas à evolução ficcional da vida e obra do Mestre. (Teresa Rita Lopes)