Em sua terceira obra, Fernanda nos oferta um livro de poemas intimistas, que parecem escritos no calor da hora. Intimistas, pois há um tom de confissão nos seus versos. Como se a poeta estivesse vivendo exatamente aquilo que o poema nos conta e, ato contínuo, senta-se para escrevê-lo. O livro surge como uma espécie de diário, que por um acaso caiu em nossas mãos.
Porém, nunca é bom se esquecer que o poeta é um fingidor. As dores, os amores, as desilusões e a esperança presentes nesses versos são universais, apresentados em belos poemas, nos traz a impressão de que o que se lê aqui foi escrito exatamente para nós, leitores. Ou melhor, nos dá a impressão de que tudo escrito nessas páginas é sobre algo que nós, algum dia, vivemos.
Logo na abertura do livro, somos impactados por um poema que sintetiza a obra como um todo. A paixão nos é mostrada como uma flecha, que nos acerta na fresta da armadura. Arrebatador e inevitável. E não só isso, pois o poema ainda diz: "chaga / que se manifesta em toda parte / corpo e ser".
E como todo bom livro de poemas intimistas, há sempre um interlocutor para quem os versos são destinados. Percebe-se esse interlocutor – em alguns pontos idealizado, sempre desejado – em diversos trechos, como por exemplo no poema A ti, muitos versos, onde se lê: "mantenho-o vivo / chama ardente / dentro de mim."
Mais impactante ainda, esse destinatário é visto no belo trecho de um poema sem título:
"Deixa cuidar de você
transpor a armadura de sempre fortaleza
conhecer seus anseios, e guardar seus segredos"
Fernanda nos presenteia com um livro intenso, feito de saudades, sonhos, desejos. Tudo em belos versos, que nos convidam a leitura.
Rafael Nolli