O autor e sua obra A linguagem é o ponto mais sofisticado de um processo que custou muito tempo a se consumar na evolução do ser humano na Terra. A aquisição da linguagem oral, sua organização e seus códigos exigiram expedientes requintados de associações. A palavra, um sopro de ar articulado, ainda que impalpável, era tão reveladora e transformadora que as pessoas tiveram a necessidade de representá-la materialmente, como expressão de suas ideias e sentimentos mais profundos, como a formalização de seu olhar subjetivo sobre o mundo e, assim, a literatura se fez, uma das artes mais complexas e desafiadoras. Seu instrumento, a palavra, gera possibilidades infinitas de expressão, já que cada uma delas admite múltiplas flexões e sentidos. Veredas que se bifurcam, o primeiro livro editado de Messias Farid Sampaio, é composto por cerca 131 poemas, distribuídos em três partes: I Ato – O Amor e alguns desassossegos; II Ato – A dimensão do Eu e o III Ato – A dimensão do afeto. E todos esses segmentos estão intimamente ligados num só movimento, vivendo e pulsando em conjunto, isolando-se no ritmo e, em seguida, prolongando-se na continuidade, sem que nada possa contar em separado. Há um todo comum e indivisível que permeia toda a obra. Veredas que se bifurcam é uma obra escrita por quem possui uma rica personalidade e um contidiano riquíssimo, uma riqueza que não provém do brilho que os acontecimentos do dia a dia possam ter. Provém, não há dúvidas, da observação atenta, sistemática e do olhar artístico com que o autor, Messias Farid Sampaio, professor, bibliófilo, filósofo, escritor, tecnocrata, poeta e militante na luta pela preservação do bioma cerrado e suas gentes, reveste tudo aquilo que o cerca, encontrando sempre uma conotação novinha em folha daquela que o observador comum poderia ter. Caolhos que nós outros somos, pois nunca decolamos para os braços da vida e os sonetos faridianos nos fazem sentir em estado de poesia, pois quem vive na abstração da filosofia, certamente, foge do lugar comum dos simples mortais. Este trabalho primoroso e algo obsessivo chega até nós traduzido em poemas, beleza sonora e estética, enfim, em imagens poéticas que nem desconfiávamos cabíveis e que vamos observando, pouco a pouco, em gradações etéreas. Em Veredas que se bifurcam, o autor tem um interesse cintilante pela palavra, pois a relação de Farid com sua matéria-prima é legítima a ponto de esticá-la, subvertê-la, expandi-la em todas as direções. Em muitos sonetos, o autor é, basicamente, um poeta do amor ao gemer paixões, a beleza da mulher, sua sensibilidade, sua brandura, sua delicadeza, sua força e canta, também, de forma explícita, a ternura, quando se refere aos seus entes mais queridos: filhos e netos; em outros contextos, verbaliza e questiona o desconcerto do mundo, o caos, a desordem e a lógica das coisas da vida. Generosamente, seu livro de estreia revela o espírito de um esteta de sensibilidade ardente e de inteligência larga, um cidadão do seu tempo, um amigo dos amigos! Lembrei-me dos versos de Carlos Drummond de Andrade, "O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente". Sem exageros, sua obra, amigo Messias, é uma ira santa! Talvez a única guerra onde é ótimo sermos derrotados, pois é uma entrega de nós mesmos ao abismo dos sonhos. Por fim, em Veredas que se bifurcam o autor integra o prosaico dia a dia em elemento-chave de sua produção artístico-literária, de suas buscas e questionamentos, naquela volta profunda ao interior de todos nós.