Fania Fridman, a partir de seu profundo conhecimento da história urbana brasileira, aqui com a colaboração de Carlos Henrique C. Ferreira, nos brinda neste livro com o resultado de uma pesquisa de fôlego, de caráter transdisciplinar, envolvendo 30 investigadores de todo o país. Realiza-se assim, através desta coletânea, uma análise inédita da urbanização na primeira metade do século XIX, período chave na formação socioespacial brasileira, síntese de agudas tensões entre a herança colonial, as pretensões imperiais e a transição regencial.
Enfocando diferentes províncias, do Grão-Pará ao Rio Grande do Sul e aquelas "que não foram", este trabalho manifesta toda a diversidade e complexidade dessa urbanização no jogo entre centralismo (autoritário, mas muito desigual) e regionalização (muitas vezes transfigurada em regionalismos autonomistas). A transformação espacial se dá especialmente através da criação de comarcas, vilas e cidades que, sob uma economia de profundas bases rurais-extrativistas, mas também em efervescência comercial, direcionava a dinâmica de ocupação e fixação no território. Trata-se de um retrato detalhado e empiricamente rigoroso de um processo que, como indicado na apresentação, é identificado, desde suas origens, como uma "urbanização no plural", impregnada nos/dos distintos quadros regionais dentro da vasta realidade geográfica brasileira. Estes textos, sem dúvida, proporcionam ao leitor uma consciência ainda mais aguda do caráter contraditório, moderno-colonial, extrativista, escravista e patriarcal que ainda hoje tanto marca a urbanização e, por extensão, as diferentes faces da (des)territorialização brasileira.