O encontro entre a Filosofia e a Psicologia pode ser testemunhado nesta obra que retrata, por meio de uma coletânea de Ensaios acerca das temáticas mais diversas e controversas, a jornada trilhada por uma filósofa na cena terapêutica ao longo de dois anos de tratamento. Analisar uma pensadora constitui certo desafio, visto que seu perfil é o de alguém que por si só já se mostra uma analista do mundo, da vida e do ser humano inserido em suas circunstâncias. Contudo, a terapeuta por ela escolhida para auxiliar na travessia do deserto dos traumas, temores e dramas que costuram a existência jamais titubeou frente à tarefa árida que cumpriu com maestria e perspicácia.
No livro em questão é possível seguir de perto a trajetória do fenômeno psíquico da transferência como ferramenta útil à construção do elo de confiança entre terapeuta e paciente, a fim de permitir que os conteúdos inconscientes da mente viessem à tona elaborados e ressignificados no âmbito da análise. A cura, nesse contexto, depende, portanto, da cumplicidade e da parceria com a psicóloga também protagonista da trama que rege a narrativa deste projeto literário antigo que só se consolidou graças à decisão de uma filósofa que se dispôs a ingressar na terapia, cujos frutos derivam de experiências ácidas, intensas, francas e como diria o grande Nietzsche: demasiadamente humanas.