De marcante presença na lírica contemporânea da Bahia, o poeta de gestos recatados preferiu conviver com o seu projeto estético, em exercício qualificado, durante décadas até que comparecesse em livro. Tornou-se o principal crítico de sua produção poética antes de fazer sua estreia como um poeta maduro, privilegiado na sua expressividade nas construções de formas líricas, tanto nos versos livres como nos de estruturas fixas. Conquistou alguns prêmios literários importantes na Bahia. Mas o que vale é a sua poesia, que, de livro a livro, apresenta-se integrada de linguagem e vida. Toca em nossos ouvidos uma poesia orvalhada de emoções, trinado de pássaro, jogo das ondas no vasto mar de ideias, que no seu timbre ritmado de cores, sutilezas várias, corre e voa com a musicalidade de sua composição quando escalavra o vento.
Contra o silêncio de seres e objetos, em suas relações intransponíveis ao primeiro golpe de vista, emerge esse poeta de sentidos e visões penetrantes do que importa deixar-se ficar, vale tocar e decifrar. Revela, em sua legítima impressão digital, sinais que reverberam solidões, estados de alma por entre cenas do cotidiano, plasmadas pelas luzes da memória, transes e emoções de quem sabe ser isso a veia e o veio para dialogar com o outro nas incompletudes do tempo, indiferente ao que nos envolve e habita no trânsito da existência. Desse ponto de vista, existe sem dúvida uma proposta formulada que chamo de pulsações líricas no labirinto de Orfeu, que comove nessa coisa afável, diáfana, feita de versos e estrofes para suportar a vida. Cyro de Mattos"