Um leitor bárbaro, que não respeitasse as regras do jogo estético, é o que Cortázar idealizava desde seu primeiro escrito consistente de crítica literária: Teoria del túnel e que realizou em O jogo da amarelinha. Leonardo M. Neves destaca esse traço que atravessa a obra do escritor argentino e, com isso, ascende o diálogo com toda a tradição filosófica, que é puxada pela força centrípeta do romance a dançar no ritmo da literatura. No entanto, não de qualquer literatura, pois não lhe interessa aquela que "tranquiliza o proprietário honesto", senão a que se realiza no swing entre leitor, escrita e autor e os desloca para outros lados com o intuito de destruir a sintaxe e o vocabulário do capitalismo. O livro Um corpo de leitura: ensaios sobre Cortázar, tragédia e teoria literária analisa a profundidade dessa proposição num diálogo instigante entre psicanálise, filosofia e a música, na figura do jazz, que ganha destaque pelo caráter inacabado e pelo impulso participativo da audiência no resultado da obra de arte. O leitor deste livro tem de escolher um modo de leitura, tal como o de Cortázar, e com isso seu corpo também entrará em jogo nessa outra amarelinha.