Compreender a censura teatral no Brasil é o escopo central deste belo livro. As autoras demonstram a partir de vasta e primorosa pesquisa documental como é possível se fazer um trabalho de história na nossa longa duração sem se deixar cair no anacronismo – o pecado fatal do historiador nas palavras de Bloch – articulando memória, teoria, arquivos e censura em dois momentos: século XIX e século XX.
Investigando a atuação do Conservatório Dramático Brasileiro no século XIX e a complexidade da censura durante o regime militar no século XX, as autoras desvelam as relações entre homens de letras e polícia bem como, fugindo das dualidades simplistas, demonstram que os censores, para além do repressivo e punitivo tinham pretensões pedagógicas e educativas, fossem essas "o civilizar" no XIX ou a construção do cidadão "morigerado" e anticomunista no XX.
Neste sentido, o leitor descobre que bons costumes, moralidade, política e censura se articulam na longa duração da sociedade brasileira, em diferentes momentos, a partir de dinâmicas políticas e culturais próprias. Em tempos de guerras culturais, tentativas de censura das artes e do ensino, especialmente de humanidades, nos vários níveis, a leitura de Um caso de polícia: a censura teatral no Brasil dos séculos XIX e XX permite ao leitor refletir sobre o passado e sobre o presente e compreender os meandros do autoritarismo socialmente implantado no Brasil.