Platão, através de seus diálogos, legou à posteridade não apenas um corpo de doutrinas filosóficas, mas um método, um convite à interrogação e ao autoexame. Dentre estes 'espaços de pensamento' está o Eutífron. Ambientado nas imediações da Stoa Basileios, onde Sócrates aguarda o desenrolar da acusação de ἀσέβεια (impiedade) que o levará à morte, o diálogo nos apresenta um encontro aparentemente fortuito: Sócrates, o filósofo questionador, e Eutífron, um homem tão seguro de seu conhecimento sobre as coisas divinas que se encontra em processo de acusar o próprio pai por homicídio, convicto de que tal ato é a epítome da εὐσέβεια (piedade). Deste encontro, emerge uma das mais incisivas e, paradoxalmente, inconclusivas investigações sobre a natureza da piedade, um conceito fundamental para a moral e a religião gregas, e, por extensão, para a reflexão ética universal. A presente obra (Um Alfabeto Filosófico de Platão — Eutífron) propõe uma abordagem singular: uma imersão sistemática no diálogo através de seu léxico fundamental organizado em uma didática ordem alfabética de temas, para guiar o leitor por dentro do pensamento filosófico de Sócrates, segundo a perspectiva de Platão.