A observação poética de manifestações do Sertão, no campo e na cidade, move a escrita de Ciro Gonçalves, em seu primeiro livro. Publicado pela negalilu editora, "tudo agora é Sertão" transita por fronteiras imaginárias e reais do cotidiano atravessado pela cultura regional, expressando afeto e crítica através da poesia.
É contemporânea sem nostalgia, a voz do caipira que nos conduz ao longo desta obra poética. Não há evocação de estereótipos do sertanejo folclórico, risível, exótico.
O confronto entre a preservação ambiental do Cerrado e o agronegócio já fica explícito na capa do livro, onde o poema "Monocultura I" − impresso em serigrafia − espalha a palavra "soja", ocupando todo o espaço e "expulsando" o título de seu lugar de origem. Entre os 41 poemas publicados, batalhas silenciosas travadas entre Deus e o Diabo evocam o inspirador universo de Guimarães Rosa. "tudo agora é Sertão" também referencia Cora Coralina e Ferreira Gullar ao tratar de temas aparentemente "miúdos" para estruturar a construção de uma poesia existencial.