Em Transculturação e região nos projetos intelectuais de Fernando Ortiz e Gilberto Freyre é costurada uma comparação improvável entre dois cientistas sociais latino-americanos. Em vez de se deter na heterogeneidade étnica e cultural como parâmetro comparativo, o livro mobiliza a ideia de projeto intelectual como uma categoria analítica que incorpora diversas facetas do empenho desses cientistas sociais. Considera, portanto, a produção bibliográfica, o papel desempenhado em instituições, as atividades de promoção artística e científica, o entrelaçamento com agentes que fornecem recursos ao trabalho intelectual. Região e transculturação se revelam como as perspectivas analíticas de Freyre e Ortiz. A construção dessas perspectivas foi feita, segundo os próprios autores, para se conformarem como resistência aos imperialismos culturais, econômicos e políticos das grandes potências. No entanto, a análise demonstra que, apesar de semelhança no sentido, as propostas sugeridas nesses projetos intelectuais, seus efeitos sociais e possíveis legados são bastante divergentes.