As ideias sobre trabalho e lazer tiveram diferentes entendimentos durante as épocas. A origem etimológica da palavra "trabalho" ou "labor" se refere à tortura, sofrimento e fadiga. Quando a Revolução Industrial determinou um tempo para o trabalho, também produziu, em seu oposto, o "tempo livre". Nesse tempo — e mesmo até hoje —as práticas de lazer designam um modo para recarregar o desgaste provocado pelo trabalho; entretanto, um entendimento mais crítico revela que essas atividades poderiam ultrapassar sua função de compensação e ganhar articulações especiais na vida de alguns sujeitos, gerando emancipação e provocando engajamentos diferenciados. Trabalho e lazer constituem aspectos que podem se interinfluenciar mutuamente, compondo novos significados e juízo de valores. Esta obra investigou o percurso profissional de seis sujeitos que optaram por tornar seu lazer, também, uma fonte de renda. Este lazer, especificamente inserido no ramo das atividades de aventura na natureza, apresenta relações de ambiguidade em sua práxis pois, ao mesmo tempo em que se alia à forma convencional de trabalho, ou seja, privilegia o esforço e adia a satisfação, também se constitui como uma fonte de resistência, pois evoca valores de uma contracultura que inspira, alguns sujeitos, a superar os limites impostos, em busca de uma autoria, às vezes, subversiva. Ao ocupar uma posição híbrida e ambígua, os entrevistados têm de enfrentar o desafio de superar as tensões entre essas distintas atividades e seus contraditórios valores. Satisfação pessoal pode competir com renda financeira? Prazer com desprazer? Até que ponto os valores do sujeito modificam sua prática de subsistência? O que dizem aqueles que ousaram apostar nesse o(fí)cio? Há um duplo desafio ao hedonista do qual, talvez, seja impossível sair ileso.