Portela dos Ventos. 1964. Uma vila de criadores de gado bovino perdida no interior de Portugal, onde estão latentes os vícios e o temperamento do seu povo, seus interesses econômicos, filiações políticas divergentes, ambições desmesuradas e amores clandestinos. "Portela dos Ventos, no final do verão de 1964, era um vulcão com três chaminés ativas – igreja, filarmónicas e criação de gado". Como pano de fundo, soletrado no jornal ou comentado na penumbra da taberna, a ditadura e a guerra colonial. Cinco décadas depois, inesperadas crateras desfiguram o chão desta terra que "não passa de uma aldeola que um dia se atreveu a erguer nas pontas dos pés para chegar a vila." Palavras de Guilherme Paixão, eremita leitor de clássicos, que encontra no jornalista deslocado para investigar o fenômeno um ouvinte que o acompanha na sua viagem ao passado. Em "Todo este silêncio", o escritor Paulo Ramalho tece um romance aliado a um quase retrato histórico-documental da ruralidade e dos seus costumes, em contradição com o desenvolvimento ditado pelo progresso, por vezes deformado pelas feridas não saradas de outrora. A atmosfera original, aliada a uma miríade de personagens densamente exploradas pela erudição do narrador, é um convite indeclinável para esta leitura intensa da alma portuguesa.