O mais empolgante numa coletânea de contos é constatar o quanto as ferramentas da literatura são esplendidamente utilizadas quando por mãos talentosas e experientes, como ocorre no caso de Gláucia Lemos. Além da leitura dessas narrativas embevecer a mente, traz um prazer estético quando adentra os mundos em suas alternativas. Alternativas estas criadas graças ao modo hábil no manejo da linguagem, na escolha da estrutura (aqui é preciso enfatizar a estrutura do conto “Maré alta”), no acerto do tempo — dos tempos — e,enfim, pelo tom adequado a cada texto. Várias realidades são elaboradas no conjunto de contos, cada conto como uma gota — para ficarmos em companhia das águas — e, assim, como estava sendo exposto, tais realidades criam uma nova realidade para os leitores, cambiando seus imaginários e contribuindo para alargar o que se acredita ser possível e passível de acontecer, seja a história sobre perdas e abandonos, seja sobre a grande solidão.