Nomear algo é apropriar-se do mundo. Como uma criança, que desde a primeira infância vai identificando o que está à sua volta, estamos sempre aprendendo ao identificar e nomear. Entretanto, vivemos num mundo de saberes deslocalizados com capacidade técnica de reproduzir qualquer coisa em qualquer lugar para vender tudo a todo mundo, desde que haja demanda. A produção e o consumo de massa, o moldado e o pré-moldado. O não lugar do fast food.
Uma indicação geográfica (IG) é o contrário disso, pois nasce de saberes localizados que têm a ver com ativos territoriais específicos, a começar pelas pessoas que vivem lá. E há também o bioma, a aptidão do solo, a altitude e a natureza potencializada para gerar o melhor, associado ao trabalho das pessoas que fazem parte daquela paisagem. Perde-se no tempo a identificação de um produto com seu lugar de origem. Por exemplo: a associação do azeite com o Mediterrâneo é um fenômeno cultural total, o azeite é o Mediterrâneo mesmo antes da era cristã. História, tradição e cultura não são avessas ao que de melhor a técnica e a ciência podem oferecer em todos os campos do conhecimento. Afinal, por que só os grandes empreendimentos do agronegócio haveriam de ser demandantes de conhecimento e inovações?
Esse livro é sobre o Café da Mantiqueira de Minas, sua história até 2021, quando alcançou a condição de uma Denominação de Origem, um degrau mais alto depois da Indicação de Procedência, as duas formas de IG presentes na legislação brasileira.