Nome em ascensão no meio literário nacional, o goiano André de Leones exercita, em Terra de casas vazias, sua habilidade para construir personagens densos, assustadoramente contemporâneos, conjugando uma escrita ágil a um lirismo todo peculiar. A morte, o torpor, a solidão e o terror presentes em Hoje está um dia morto, Como desaparecer completamente e Dentes negros voltam à cena no novo romance, cujos protagonistas passeiam por lugares diversos, em histórias que se entrecruzam e que mantêm em comum a ameaça permanente da tragédia, da transitoriedade, do aniquilamento.
Ao contar as histórias de Teresa e Arthur, Aureliano e Camila, Marcela e Nathalie, Maria Fernanda e Luís Guilherme, o autor elabora uma sedutora engrenagem narrativa, um quebra-cabeça onde as tramas principais abrem brechas para outros pequenos – e sempre surpreendentes – fiapos de história. Passeia-se pela violência escancarada dos bairros pobres ao redor de Brasília; pela angústia de uma clínica de desintoxicação; pela intimidade macilenta de um casal em crise; pela curiosidade infantil diante da tragédia – o amigo que morreu eletrocutado, a separação dos pais e seu vocabulário obscuro, irresistível.
Ao mesmo tempo, passeia-se pela surpresa de uma gravidez tardia; pela cumplicidade redentora de um casal que, em breve, será desfeito; pela luminosidade de uma terra estrangeira, onde ainda é possível se perder. Por tudo isso, não é o desencanto que marca as múltiplas histórias de Terra de casas vazias. Pelo contrário: aqui, a linguagem é o laço primordial que, diante do inevitável desaparecer, promove um reencantamento tão soberano quanto fugidio. Uma marca de nossos tempos que a escrita de Leones consegue captar com precisão.