TERAPIA: A OUTRA FACE DO AMOR. RELATOS DE UMA PACIENTE TRANSEXUAL. QUER CONHECER MINHA HISTÓRIA? Sei que não tenho quinze anos... Mas sou assim, delicada... Meiga, feminina, cheia de incertezas. O que faltou? Minha Mãe. Eu dizia em meus pensamentos. Socorro mãe, me toque por favor, me tira deste pesadelo, preciso muito de você mamãe, me ajuda a desvendar este sentir... Como foi minha infância? Sempre fui um menino tímido, tanto em casa como na escola. Era calado, tinha medo de todo mundo. Desde muito cedo, já sofria com comentários que era diferente dos outros meninos, tipo afeminado, com aquele andar de boneca e um jeitinho de falar afinado, é como me recordo de quando se referiam a mim. Sempre... Em todas as famílias aparece àquela comadre que vem com um comentário maldoso, e como não poderia ser diferente, a nossa comadre tinha a língua mais afiada do bairro. Eu sofria muito com isto. Já na escola, eu era bombardeado com as risadas dos amiguinhos, que ficavam entre um bem querer, ou não, com minha pessoa. Eram muitas brincadeiras de mau gosto, era normal quando eu achava laços de fita dentro da minha mochila, colocada pelos colegas de classe. Eu não queria chamar à atenção, mas era natural para mim, desenhar uma florzinha, um coração, ou um bonequinho no canto do meu caderno. Assim era eu, um menino, sentindo-se uma menina, fechado, ficava na minha e ia vivendo minha vidinha conturbada, invadida por todos como se fosse um animalzinho a ser estudado. Muitas e muitas vezes, apanhei de alguns meninos que me provocavam o tempo todo dentro da escola, era uma tortura quando eu entrava no banheiro, existia aquele comentário de que a menininha acabara de entrar. Eles faziam de tudo para que eu reagisse à zombaria deles, para então poderem me massacrar como desejavam. E eu, como me defender? Sou alta, forte, morena e muito sensual. Adoro ser eu, sou feliz.