Vincenzo Susca domina a potência do verbo e tem antenas para os aspectos do cotidiano que povoam rapidamente o imaginário das pessoas. Razão e sensibilidade, prosa e poesia, observação e participação. Neste livro, ele aborda o encontro entre tecnologia e imaginário, um fenômeno que vai da sinergia aos descompassos, mas que na sua leitura jamais cai na rejeição apocalíptica ou na quase incontornável nostalgia do paraíso perdido. O autor examina a matéria que analisa como um flâneur que se desloca entre miríades de provocações, encantamentos e cintilações fugazes.
Passear entre as galerias digitais, porém, não lhe apaga o senso crítico nem o impede de pontilhar o caminho de observações judiciosas, pertinentes, inesperadas, capazes de levar o leitor pela mão a compreensões mais profundas das tantas camadas de significados que se abrigam na superfície da pele do vivido. É de aura que está falando, aura eletrônica, aura digital, aura existencial, aura e magnificação. O imaginário não deixa de ser a "magificação" do banal, procedimento intuitivo pelo qual o comum passa por uma transfiguração incalculável. Italiano, vivendo na França, Susca concilia culturas e práticas. De certo modo, recorre a uma razão estética para interpretar o mundo.
O digital tem suas liturgias, o contemporâneo, suas ruínas, sobre as quais se pode dançar ou ser dançado, numa cadeia de êxtases e exaltações, mas também num circuito aberto de interações vulcânicas. Vincenzo Susca raspa a lava endurecida da cena virtual para decifrar as marcas do novo na pedra e na carne do passado. Assim, mostra um "novo realismo tecnomágico". Vivemos de oximoros. Somos paradoxais, contraditórios, "contraditoriais", para usar uma categoria cara a Michel Maffesoli, o que significa dizer pulsantes e efervescentes. Este ensaio revela as tantas faces dessa fusão com a tecnologia.