"Se em Ésquilo o teatro é uma teomorfização e suas personagens são mais gigantes que seres humanos, uma vez que sua tragédia é um confronto entre o Hades e o Olimpo; se já em Sófocles, com seu antropocentrismo, observa-se um certo distanciamento, com os deuses agindo pela voz dos Oráculos e dos Adivinhos e a Moira como causa segunda, nota-se, nas peças de Eurípedes uma consciente dessacralização do mito com uma consequente proletarização da tragédia. Das trevas de Elêusis de Ésquilo aos píncaros do Olimpo de Sófocles, a tragédia de Eurípedes desceu para as ruas de Atenas. Moira, a fatalidade cega de Ésquilo, e Lógos, a razão socrática de Sófocles, transmutaram-se em Eurípedes em ÉROS, a força da paixão. Como diz a própria Medeia, vinte e dois séculos antes de Pascal, o coração tem razões que a própria razão desconhece (med. 1080). (Trecho da obra)