Num tempo em que a identidade se tornou espetáculo e a alma uma mercadoria obsoleta, O Sujeito Estilhaçado emerge como um gesto radical de escuta, ruptura e reencantamento. Esta obra filosófico-poética recusa o mito do eu uno, soberano e coerente, e propõe uma travessia entre os cacos de um sujeito em ruínas — um ser poroso, relacional e ético, que respira entre fronteiras, não sobre alicerces. Dividido em três partes — O Mito do Indivíduo, O Corpo como Campo de Tensão e O Renascer pelo Entre — o livro entrelaça pensamento crítico, lirismo existencial e coragem epistêmica para interrogar conceitos como identidade, corpo, gênero, alteridade, trauma, visibilidade e interdependência. Aqui, filosofia e poesia se dão as mãos, e o pensamento não é tese — é ferida aberta, é linguagem que treme, é gesto de cuidado diante da precariedade do ser. Inspirando-se em vozes marginais e dissidentes — de Nietzsche a Haraway, de Merleau-Ponty a Rumi — Davi Roballo não oferece respostas, mas frestas. Cada capítulo é uma partitura de silêncio e lucidez, onde o sujeito não se reconstrói: ele se atravessa. Um livro para quem não se encaixa. Para quem duvida das formas sólidas. Para quem pressente que entre os estilhaços ainda pulsa um outro modo de existir — mais digno, mais frágil, mais humano. O Sujeito Estilhaçado é menos uma obra — e mais um chamado.