Analisamos aqui o problema da transição no De Intellectus de Spinoza. A transição vista como um trabalho contínuo de desativação de formas de perceber e desejar que debilitam a nossa existência. Tal processo implica pensar a existência como uma possibilidade de passar ao que a nossa natureza singular exige de mais forte. Assim, a narrativa do De Intellectus é vista como um plano de passagem imanente à vida. No plano, os aspectos éticos e cognitivos da obra estão vinculados. Pois, uma vez que ocorre transição no campo da percepção, também ocorre no campo da vida e vice versa. Portanto, ética e conhecimento compõem o mesmo plano de passagem. A hipótese que nos orientou foi: há uma tensão entre formas de viver e perceber instituídas antes de nós e a possibilidade de problematizar a própria existência, de acordo com uma noção de vida humana mais forte. Assim, a ideia de uma vida mais potente inaugura o problema da passagem possível ao que cada um pode efetivar. Fato é que, a narrativa do De Intellectus coloca em evidência a tensão entre uma vida submetida ao que a debilita e a possibilidade de um movimento existencial em que a cadência pode ser determinada por uma exigência própria de existir e pensar.