Autor de mais de quarenta títulos, que alcançaram uma vendagem superior a 5 milhões de exemplares, Marcos Rey (pseudônimo de Edmundo Donato) foi antes de tudo um contador de histórias. Alheio a teorias, coerente consigo mesmo, sabia como raros prender a atenção do leitor e torná-lo parceiro, e cúmplice agradecido, das pequenas e grandes canalhices de seus personagens, como nos sete contos de Soy Loco por Ti, América!Neste, como nos seus demais livros, o grande personagem é a cidade de São Paulo, essa "máquina de moer gente" (João Antonio), cenário da luta implacável pela sobrevivência, envolvendo malandros e solitários, notívagos e angustiados, cada um se virando como pode, em busca de um trocado, de um instante de simpatia, de sexo barato. Uma fauna humana meio grotesca, que o escritor trata com ironia, irreverência, humor cáustico, segundo ele "a melhor forma de apresentar uma crítica". Crítica, a sua, na verdade impiedosa da sociedade moderna, com a sua filosofia de consumismo, o egoísmo implacável, a alienação generalizada, o desespero do mundo noturno, com seus bares e inferninhos, garotas de programa, marginais e desesperados de todos os tipos. A noite é o horário preferido pelos heróis de Marcos Rey para saírem da toca e se revelarem: a fã que surpreende o locutor, madrugada alta; o passeio noturno de um publicitário desempregado; os grã-finos em sua jornada vazia noite adentro, com farto consumo de álcool e lança-perfume. Mas a gente do dia também é fascinante, sobretudo quando se trata de um refinadíssimo vigarista, como o personagem de "A Enguia", ou de um irremediável apaixonado por política ("O Adhemarista"). Qualquer hora é hora para um personagem de conto sobressair quando quem escreve tem as artes, artimanhas e astúcias de Marcos Rey.