A poesia de Lana Cordeiro é sutil como uma pluma de algodão, que se desmancha ao vento. Seus versos flutuam, pairando acima de tudo o que é concretude e/ou realidade. Por isso, ela escolhe com muita parcimônia o tecido de sua matéria poética: palavras leves, sopradas pelas brisas que moram na casa dos sonhos. Por testemunha, só Morfeu. Ou aqueles que dormem em cumplicidade com o silêncio.
Nesse seu Sopros de Morfeu, a poeta tece um monólogo com o "deus" do sono, contando-lhe nuances do seu despertar, de como vê a casa a sua volta, das sensações que os primeiros raios de sol lhe imprimem. Percebe que ao acordar, todas as coisas ainda dormem: os mares, e também as árvores, cujos ventos demoram para assoprar-lhes as folhas. A poesia de Lana não tem pressa e entra em simbiose com todas as coisas da criação.
O tempo da poesia de Lana também é outro, que não pode ser contado pelos ponteiros do relógio. Ela tanto pode prostrar-se à porta da casa para ouvir os galos e sua impertinência de cantos, por horas ou séculos, como pode ser transportada desse sonho, onde dorme-acordada, para um tempo presente, onde é o estômago que grita, instigado pelo cheiro de café.
Mesmo assim, ela pousa na realidade por raízes aéreas, não chega de rompante. "calafrios vêm me dizer bom dia".