Normalmente se fala do câncer como se fosse uma única doença. Porém, na verdade, mais de cem patologias abrigam-se sob este nome. E essa profusão produz tantos diagnósticos e prognósticos que qualquer definição precisa e clara se torna virtualmente impossível. Se tal indefinição acontece no próprio meio médico, pode-se imaginar a confusão que causa no público leigo, que, em geral, reage enxergando apenas duas vias para se lidar com a questão: de um lado a visão fatalista, onde o diagnostico equivale a uma sentença de morte imediata e inapelável; de outro, aqueles que tentam acreditar – e pior, convencer aos demais – em curas milagrosas, medicamentos miraculosos e pseudos científicos cuja base estaria em certos alimentos e/ou beberagens, na força do pensamento positivo, da vontade de viver (sic) etc. Visões equivocadas, pois se na atualidade os tratamentos ortodoxos podem oferecer, de fato, alguns resultados positivos; sabe-se à exaustão da inutilidade (e em alguns casos da má fé) dos chamados "tratamentos alternativos". Por isso, é que ao escrever a minha história com a enfermidade, procurei desmistificar as duas visões. Sei que me expus por inteiro, mas preferi retratar a crua e nua realidade da minha situação, torcendo para ela sirva como um espelho a todos que estão entrando nessa senda. Que os pacientes possam ver que as suas mazelas serão duras, difíceis, penosas, mas que, apesar delas, ainda será possível encontrar vitórias e realizações. E que os familiares possam melhor compreender as agruras (nem sempre visíveis) daqueles que convivem com a patologia, ofertando o apoio e a solidariedade que nos é de suma importância.