Demian não sabia ou não se importava muito com a volta às aulas da faculdade, preso no emaranhado tedioso que compunha sua vida ele vê seu estado de inércia ser acelerado gradativamente à medida que conhece Sally, uma menina de sorriso gengival e uma estranha tendência de terminar todas as frases com perguntas. Ao passo que, apesar de Demian ser retirado da sua solidão diante da inevitabilidade da sua liberdade, ofuscado pelos raios de sol e encoberto pelas nuvens cinzas, ele não parece conseguir notar as sutis dicas do desenrolar da história.
Sobre as coisas que não foram ditas constrói de maneira delicada, sutil e cheia de alma o romance de ambos assim como o passeio pela solidão de Demian, pelas cicatrizes de Sally e pelo seu mundo que, assim como o Sol, é irresistível, inevitável e misterioso. Não deixa de retratar temas latentes e atemporais como amor, amizade, solidão, depressão, questionamentos existenciais, a banalização das tragédias, o caminho que seguimos diante das decisões que tomamos, as cicatrizes deixadas em nós e, principalmente, aquelas que de tanto tempo existirem se tornam quase imperceptíveis, mas não menos impactantes.