Um ex-editor de sucesso caído em desgraça e uma bela e jovem garota de programa, de passado misterioso - o encontro de sair faísca entre os dois personagens é o ponto de partida do romance Só por hoje.
Em Só por hoje, há muito mais que uma simples e improvável história de amor. Com linguagem despojada, por muitas vezes até brutal, com frases diretas e total ausência de lirismo de fachada, a ficção de Julio Ludemir – calcada na realidade mais crua – propõe discussões a fundo, sem deixar de entreter o leitor com um enredo cheio de reviravoltas e suspense a cada fim de capítulo.
A temática que salta aos olhos aborda o problema da adição às drogas, cocaína principalmente, a começar pelo título do livro, uma referência ao mantra dos viciados que tentam manter-se longe da tentação. Tony Coelho, o ex-editor, é um dependente químico em recuperação, cuja abstinência já dura 15 anos. Ele sabe que, em caso de uma recaída, teria uma overdose na certa. Mas nada pode fazer depois de se envolver com Laís. Além da forte atração sexual, Tony sente-se na obrigação de ajudar a prostituta que vende o corpo nos inferninhos para poder frequentar as bocas de fumo instaladas nas favelas de Copacabana.
Ao flagrar um momento de tensão e acerto de contas de um homem com seu passado, o romance aproveita para tocar em outros temas além do consumo de drogas. Só por hoje é também um livro sobre o desejo e as formas perversas de sua manifestação. E sobre a amizade e o seu reverso da moeda, a traição.