O fascínio pela dimensão temporal, evidenciado na forma e/ou na temática de algumas obras, marca uma das principais características encontradas em parte do documentário brasileiro contemporâneo. A ênfase na passagem do tempo ganha maior relevo quando, na busca incessante pela experiência singular do outro, os filmes abordam a memória pessoal como possibilidade de relacionar o ordinário, os gestos mais banais a um modo particular de ser e de estar num mundo em devir. E em se tratando da forma, a preferência por imagens longas e fixas intensifica a ideia de inexorabilidade do tempo, provocando no espectador o que Lúcia Nagib (2013) chama de stasis reflexiva. A tendência por um cinema mais contemplativo, cuja estética da lentidão nos direciona para novas formas de realismo cinematográfico, pode estar relacionada com o que tem se convencionado chamar de slow cinema – caracterizado, principalmente, pela fixação com o tempo, o uso de tomadas longas, a falta de enredo e o foco no cotidiano.