A Astronomia, como origem e, talvez, fim de todas as Ciências, sempre esteve voltada à observação dos astros e à busca de novas técnicas e instrumentos que permitissem ampliar os limites e a qualidade das observações. Dessa busca, resultou o desenvolvimento do telescópio óptico por Galileu Galilei. Tal instrumento sofreu incontáveis aperfeiçoamentos e chegou aos nossos dias como um aparelho preciso e de sofisticada tecnologia. Embora as fronteiras observacionais tenham avançado para além do espectro visível, o telescópio óptico ainda é indispensável à Astronomia.
O Brasil, apesar de condições meteorológicas adversas para observações astronômicas, mantém observatórios ópticos de razoável qualidade. No extremo sul, no entanto, o país carece de bons instrumentos ópticos, destacando-se apenas o telescópio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), instalado no Observatório do Morro Santana, em Porto Alegre. O aumento da iluminação artificial na Região Metropolitana de Porto Alegre e, consequentemente, da claridade do céu noturno tem praticamente inviabilizado a operação do Observatório. Assim, a escolha de novos locais para a futura instalação de telescópios ópticos no Estado é imprescindível. Acrescenta-se a isso o fato de o ciclo climático dessa região diferenciar-se das demais regiões do país, fato relevante, dado que um dos fatores determinantes na escolha de novos sítios para telescópios ópticos é a taxa de nebulosidade. Contudo, levantamentos in situ de nebulosidade são longos e custosos. Como alternativa, realizamos um estudo estatístico do Estado utilizando para isso a montagem de um banco de 472 imagens noturnas dos satélites GOES e MeteoSat. A combinação das imagens, por processo de superposição e cálculo de valores médios de contagens (brilho), à escala de píxel, forneceu informações em nível de pré-seleção, ou indicativo, de locais com altas taxas de noites claras. Foram cobertos os períodos de 1994-1995 e 1998-1999, com foco nas áreas em torno de Bom Jesus, Vacaria e Caçapava do Sul. Como controle, foi também monitorada a área em torno do Laboratório Nacional de Astrofísica, em Minas Gerais. Ademais, os dados orbitais indicaram que, na média desses anos, essas áreas são adequadas à instalação de observatórios astronômicos, pela conjugação dos fatores de nebulosidade e altitude.