Diante de uma obra tão monumental como a de Gilbert Simondon, Lucas Vilalta se nega a fazer um compêndio de suas noções fundamentais ou a reconstruir a arquitetura de sua teoria. Assume o risco de fazer viver a Simondon, imiscuir-se em sua cosmovisão, devir-Simondon, o filósofo do devir, partindo de um traço interpretativo original: a relação entre ética e ontogênese – que justamente não havia sido muito trabalhada até agora. Lucas prolonga a reflexão e a ação ética em Simondon, levando-a mais longe, inventando-a, individuando-a, desafiando-a, fazendo com que esta "introdução" seja na verdade a "continuação" de uma obra. Com doses iguais de clareza, precisão conceitual e sensibilidade, Lucas literalmente nos transporta a um mundo em que tudo pode ser pensado novamente. Dizer mil vezes sim, nietzscheanamente. E dizer não à operação mais simples e calamitosa de capturar Simondon na teia de aranha acadêmica e comercial da indústria do autor da moda. É verdade que Lucas não está sozinho, que somos muitas e muitos que apostamos, especialmente na América Latina, em falar de Simondon como de algo maravilhoso, não como algo a ser dissecado. Mas, também é verdade, que sem Lucas, sem esta delicada joia escrita por ele, o trabalho seria muito mais árduo.