O simbolismo começou com as primeiras palavras proferidas pelo primeiro homem, quando ele nomeou todos os seres vivos; ou antes disso, no céu, quando Deus nomeou o mundo para que ele existisse. E vemos, nestes primórdios, precisamente o que o simbolismo na literatura realmente é: uma forma de expressão, na melhor das hipóteses aproximada, essencialmente arbitrária, até obter a força de uma convenção, para uma realidade invisível apreendida pela consciência. Aqui, então, nesta revolta contra a exterioridade, contra a retórica, contra uma tradição materialista; neste esforço para desvincular a essência última, a alma, de tudo o que existe e pode ser percebido pela consciência; nesta espera obediente por cada símbolo por meio do qual a alma das coisas pode ser tornada visível, a literatura, oprimida por tantos fardos, pode finalmente alcançar a liberdade e a sua linguagem autêntica. Ao alcançar essa liberdade, ela aceita um fardo mais pesado; pois, ao falar-nos de forma tão íntima, tão solene, como até então apenas a religião nos falava, ela própria se torna uma espécie de religião, com todos os deveres e responsabilidades do ritual sagrado. Também me deu prazer ler os ensaios de O Simbolismo e seus ismos. Já conhecia alguma coisa, mas ler o conjunto de textos sobre assunto tão problemático foi muito bom. Só tenho a lhe agradecer por me enviar tantos textos críticos, alguns deles bem difíceis de se encontrar por aí. Grande abraço, Álvaro Cardoso Gomes