Em "Silêncios e Teatro", a autora leva adiante a necessária discussão sobre o decálogo "Marta, a Árvore e o Relógio", obra fundamental de Jorge Andrade, a partir de uma abordagem inovadora e muito produtiva: os modos de operação do silêncio. Se este conceito já vem sendo estudado no campo dos estudos literários, de modo geral, ainda é incipiente no âmbito da dramaturgia e do teatro. Isso embora seja justamente nesse lugar que o silêncio ganha potência, haja vista a dinâmica dos diálogos, a relação direta com uma plateia (efetiva ou projetada), o andamento da cena viva etc. Sula Engelmann desenvolve uma análise excelente e surpreendente da obra a partir desse conceito, mas sem dobrar-se a ele, de tal modo que joga luz sobre a obra e ainda evidencia a força do silêncio como material estético de primeira grandeza. Com isso, presta enorme contribuição à crítica sobre Jorge Andrade, que corre o risco de ser silenciada (noutra acepção decisiva do conceito), dada a desvalorização das artes em geral, e do teatro em particular, nos tempos terríveis que vivemos.
Alexandre Flory