Pisar as próprias pegadas sem temer andar em círculos. Descobrira que a linha do tempo é, na verdade, uma elipse tênue, fugidia, mas que traz em si a possibilidade de reconstrução. Após cada elipse, ressurgia mais forte. O vento que lhe arrancava os pés do chão e tirava-lhe o lugar cotidiano, conhecido e seguro, ao mesmo tempo, desfazia suas amarras. Tomou gosto por esse viver peculiar. Tomou apego às suas asas: uma na luz, outra na sombra. Aprendera a reprogramar seus voos em pleno voo, sobrevoar os próprios escombros e a deixá-los para trás. Tomou seu rumo. Sorvia a vida em goles, ora acres, ora doces, sempre intensos.
Shadows não é doce, tampouco destila amargor. Não conta a história de uma heroína, nem busca emplacar vilões. Os personagens são faces, ângulos da autora em estado confessional. Os fantasmas presentes são parte da biografia da qual já não abre mão. A autora e suas sombras dividem o mesmo teto e diálogos contumazes. Shadows não responde perguntas, não dá conselhos, não prega revoluções; causa interrogações.
Shadows é um convite ao silêncio. Propõe sentir, silenciar e ouvir. Ouvir a si, a própria respiração, o coração, o brake das palavras não ditas diante do silêncio conquistado. A vida é barulhenta. A tempestade é barulhenta. Nosso estômago, vísceras e ego são barulhentos. Convite feito! Se aceito, talvez possamos contar ou até ouvir as estrelas do Senhor Bilac.