Em Sequências, Júlio Castañon Guimarães põe em cena, de forma tensa, um paradigma construtivista bastante presente, entre nós, no panorama das artes visuais e também no da poesia.
É tenso o gesto realizado pela poesia do autor mineiro porque tal paradigma comparece em seus poemas — não para ser repetido ou celebrado, e sim para ser encarado, desafiado e transformado. Afinal, nesta obra, o desejo de ordem e justeza não se diferencia do que é precário e inacabado.
A linha do desenho que risca a superfície do papel tanto instaura limites quanto os torna indefinidos. Isso para não falar dos passos dados à noite que levam o caminhante a um destino desconhecido: "Quando o onde não é o que importa — aí a viagem".
Desse modo, vamos, de palavra em palavra, por um percurso em que abismo e método são faces de uma mesma moeda. Nestas páginas, a "forma informe" luta consigo mesma para dar a ver, por exemplo, um limão, uma laranja ou ainda um rapaz de quem vemos apenas o braço e o torso.
Por falar em imagem, Castañon — diante de uma paisagem de Cézanne, do acervo do Masp — anota: "pensar em paisagem, / quando de fato se trata de um retrato". Ler o gênero da paisagem em Cézanne como retrato (outro gênero da pintura) pede uma mudança de ângulo radical que, entre outras coisas, abala as ficções e dramas do eu.
É assim que, discretamente e em tom menor, a poesia de Castañon segue com força total, pesquisando linguagens e mudando a tradição de lugar.