"Sensações Alheias" é o inebriante dulçor de uma incógnita ainda, mesmo depois de se exibir como história contada. Isso porque o segredo-narrador se esmera no intuito de dizer apenas o que sabe, e ele (o segredo que narra) cumpre a difícil missão de expor as sensações do casal em questão... E o que os outros sentem pode não estar claro para todos...
Vê-se um misto de primeira e terceira pessoas na narrativa, pois o segredo às vezes se personifica por inteiro e deixa marcantes rastros dos próprios sentimentos. Inclusive, há passagens onde ele forma um único ser com um dos cônjuges, criando um inovador e estranho "nós".
Trata-se de um texto-arte extremamente romântico; é a insanidade sutil buscando meios para se amalgamar o magma dos sentimentos alheios, é a impaciente meticulosidade do oceano feito em gotas, é a grandiosidade da demora maquiavélica, é a fúria da fome a devorar um mar de mel... É, portanto, algo que talvez possa ser chamado de poema contado em prosa.
Mas, entregar tudo em um adiantamento rápido e gratuito se assemelha a deixar o eunuco sem castrar. Aliás, "o bom livro não deve abrir mão de ser mão-fechada", segundo o autor.
Boa leitura e apaixonante deleite a todos.