Pretendo oferecer uma contribuição à história geral do espírito e à compreensão do significado permanente dos dois filósofos. Assim começa Georg Simmel este livro sobre Schopenhauer e Nietzsche. Não lhe interessam histórias de vida ou uma mera descrição, pretensamente abrangente, das obras de cada um, das quais seleciona e comenta só o que há de mais valioso e perene.
Que filósofos! Schopenhauer ataca de frente a antiga ideia de que a razão constitui a essência do homem. Em seu lugar, propõe uma metafísica da vontade, que Simmel considera ""um dos poucos progressos realmente importantes que a filosofia fez diante do problema da vida humana"". Nessa visão, a vida é um impulso incessante, impelida por uma vontade que não encontra nada que a satisfaça. Não se trata de uma vontade psicológica, específica, mas de uma vontade metafísica, absoluta, geral, por definição insaciável, situada além de toda aparência.
Comandada por ela, nossa existência não pode alcançar um fim último. Os objetivos que atingimos são apenas pontos de trânsito de um movimento contínuo, motivado pela dor e a carência. Podemos contornar essa eterna insatisfação pela estética, que separa representação e vontade, pela moral, que suprime as existências isoladas, ou pela ascese, que cancela a vontade e faz o mundo retornar ao nada.
Nietzsche, por sua vez, vê a vida como a crescente concentração das forças ambientes no sujeito. Ela dispensa qualquer fim transcendente, pois é o seu próprio fim. Cada estágio da existência humana se completa no estágio seguinte, que libera energias latentes e realiza o que antes era mera possibilidade. Esse processo não se cumpre em todos os indivíduos ao mesmo tempo. Só as existências mais elevadas dão a medida de onde a vida, como um todo, chegou. A percepção da diversidade humana e a ênfase na superação fazem de Nietzsche um duro crítico das tendências democráticas do mundo moderno, que ele contrapõe à moral da distinção.
""Toda a sua doutrina"", diz Simmel, ""repousa em um imperativo dogmático: a vida deve Ser! Por isso, Nietzsche vê em Schopenhauer o seu adversário filosófico, a quem não pode vencer, pois este nega o próprio imperativo, colocando em seu lugar o contrário: a vida não deve Ser! [...] Na distância entre essas interpretações percebe-se uma ampliação da alma e até se pode desfrutar da desesperação da vida ou do júbilo da vida como polos de sua grandeza, de sua força, da riqueza de suas formas.""
César Benjamin
""A obra de Schopenhauer é a expressão filosófica do estado íntimo do homem moderno. Para ele, a essência metafísica do mundo e de nós mesmos encontra expressão geral e decisiva na vontade, pois o que é absoluto no Ser é uma contínua superação de si mesmo. [...] Esse mundo impulsionado pela vontade de fins, mas carente deles, também é o ponto de partida de Nietzsche. Entre ele e Schopenhauer, porém, está Darwin. Enquanto Schopenhauer se detém na negação, pela vontade, do fim último, Nietzsche encontra na evolução da espécie humana a possibilidade de um fim que permita a vida afirmar-se.""
Georg Simmel
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