Há algo de inebriante na leitura de Sangue Bom. Este é um livro que junta violência urbana e fanatismo religioso assim como os botecos das periferias brasileiras misturam pinga com vermute: o menino Artur, personagem central da história, presencia atônito à morte da mãe, que leva um tiro durante um assalto. Vítima de um tio ambicioso, um jornalista oportunista e um marqueteiro mau caráter, Artur será transformado na reencarnação de Jesus Cristo, atraindo hordas de crentes, todos à espera de um milagre, e enfrentará uma verdadeira via-crúcis.
Mais do que uma boa história, Sangue Bom possui um tom contemporâneo de crítica social: Escancara a violência exacerbante, a manipulação inescrupulosa da fé, a putrefação dos valores morais, a postura vexatória dos governantes, a alienação do povo. É um livro com alto teor etílico e satírico. Mas, ao contrário do "cocktail" nacional de cachaça ruim e vermute vagabundo, este despretensioso e panfletário romance não arranha a garganta, desce redondo, até a última gota.