Sangrado Anjo desnuda em poemas o lado trash de uma estória abominável marcada pela vilania de Deus contra o seu primogênito absoluto, que recebera o desonroso epíteto de o traidor das hordas celestiais: o incandescente Lúcifer, o portador da Luz, a Estrela da Manhã.
O anjo sangrado em luz
jamais despencara dos céus
como estrela mais do que cadente
pelas línguas luciferinas do Criador;
mas fora o firmamento manchado de carmim
que tombara da luz divinal
vertida do primogênito de Deus:
o acusado de ser o traidor do Eterno!
Vale a pena enfrentar uma besta-fera
paramentada de Pai,
que ultrajou impiedosamente,
ao fio duma espada ígnea,
o direito de primogenitura
de um filho gerado de suas entranhas tecidas
pelas linhas do Bem
e cerzidas pelos pontos do Mal?
Em verdade, em verdade,
quem era Samael,
o que herdara em seu nome
o veneno de Deus
e que fora parido
pelas labaredas imortais
do Todo Poderoso?
O Senhor dos senhores,
em seu poder inefável,
ao rasgar o dorso de um querubim
e despedaçar suas asas luminescentes
antes da aurora dos tempos,
desgraçou os termos da Criação
e semeou a morte nos mundos...
Apaga-se um anjo sem mácula;
os seres de barro são escurecidos
pelo infame desejo
de exterminarem-se uns aos outros;
o Filho do Homem
é crucificado em vão
numa cruz sem vida;
e o Grande Eu sou
é silenciado no sétimo céu...
Onde estás tu,
oh, Gabriel?!