Das restrições vividas por crescer em um lar evangélico até a decisão de se assumir homossexual e não abandonar a igreja, o caminho não foi linear. Culpa, tristeza, medo, solidão, vergonha. 37 anos até a aceitação.
Estas páginas narram essa trajetória. Está tudo aí: o sentimento de inadequação da infância, as culpas da adolescência, a solidão no início da fase adulta, as crises de ansiedade, o longo processo de aceitação, a conversa com o pastor da igreja que frequenta até hoje, os amores, as desilusões, o fim do silenciamento. Raquel é corajosa, consistente e não se limita a contar sua história. Também traz o relato de amigos homossexuais evangélicos que vivenciaram processos parecidos com o dela, além de entrevistar a psicóloga Marina Costa e os pastores Bob Luiz Botelho e Henrique Vieira.
A homossexualidade ainda é um tabu na maioria das igrejas evangélicas. Nesse contexto, o relato de Raquel tem ainda mais impacto. Sua honestidade e franqueza são um convite à reflexão. Que mundo é esse que usa a religião para cercear a liberdade de milhares de pessoas? Por que reproduzir interpretações equivocadas da Bíblia e passar por cima do principal ensinamento de Jesus: o amor ao próximo? Raquel demorou a se entender merecedora de ser quem ela é. No entanto, quando ela o faz e acredita na sua voz, seu mundo se expande. E o nosso também.
Vanessa Melo, jornalista