Persiste ainda aqui e ali uma imagem da História como um corpo de água parada, com margens plácidas e modorrentas. Em tal imagem, o ofício do historiador seria o de somente preencher lacunas de datas e fatos, como quem colocasse barquinhos de papel na superfície líquida. Os desafios de quem se dedica à História tornam-se progressivamente maiores em tempos, como os nossos, em que o irracionalismo e o anti-intelectualismo parecem atrair, como um traiçoeiro canto das sereias das mídias digitais, um número cada vez maior de pessoas.
A coletânea que chega ao seu segundo volume nos indicas a ideia de que não são águas paradas que melhor representam nosso campo, mas o indicativo de movimento. A História é dinâmica. Se é de nosso ofício estudar "todo fenômeno da atividade humana" e "dar forma cognitiva à história concreta" para se estabelecer (ou ao menos buscar) "um consenso suficiente no meio profissional dos historiadores", como bem definiu Le Goff em História e Memória, essa tarefa só é atingida por meio de muito esforço. Cada nova pesquisa acrescenta uma lufada de ar fresco que torna as águas um pouco mais agitadas e interessantes. Novas fontes, novos métodos, novas abordagens – os rumos são vários. Essa diversidade de caminhos, cada qual à sua maneira, enriquece nossa compreensão sobre o passado e também nos diz muito a respeito de nosso próprio tempo.