Li com curiosidade, de um só fôlego, a novela Ruínas da Escuridão, de uma jovem de quatorze anos, com óculos, cabelos cacheados, imersa em seus planos e mundos paralelos.
O livro abre com uma citação da banda de rock Imagine Dragons: "Eu estou lutando para escapar do que está dentro de mim / um monstro / eu estou virando um monstro". É nessa atmosfera dark, apocalíptica, de ruínas escuras que se move a fabulação dessa autora perplexa diante da confusa realidade contemporânea.
O cientista de sobretudo preto e ares misteriosos roubou, tal qual o novo Prometeu mitológico, os poderes dos elementos de Gaia, a Mãe Natureza, e fez nascer em seu laboratório, na Sala Proibida, cinco bebês "mestiços", meio humanos, meio elementares: Fogo, Água, Terra, Ar e X. Dezenove anos se passaram, o jovem X é o líder, o ponto nevrálgico dessa cadeia, o portador da angústia e, ao mesmo tempo, da solução do problema. Muitas vezes X se sente tomado pela Ira, esse pecado capital difícil de controlar, que pode resultar em tragédia, separação e morte.
Agoniado, precisa de remédios para acalmar sua fúria (seriam drogas?) e fica na dependência do cientista, seu criador e manipulador. Ele sofre, pois a ira não produz justiça.
Os elementares são treinados para uma guerra corpo a corpo, duras batalhas com armas brancas, sabres voadores. Vagam por uma biblioteca de corredores sombrios, infinita como a de Jorge Luis Borges no seu conto Biblioteca de Babel. Há livros enigmáticos nas estantes. Um livro sobre Vayu, o reino da Luz Celestial criado pelo Sol e pela Lua. Há também um lobo modificado geneticamente observando os movimentos entre as prateleiras. A força da escrita de Beatriz se revela nos cortes abruptos ao fim dos capítulos, como este: "A menina se aproximou daqueles dois olhos vermelhos brilhantes e não se demorou em observar mais o que era aquilo, mas pôde jurar que viu algo como gratidão quando passou a adaga no pescoço da criatura".
Na fuga de X como um louco, um mendigo, pelas ruas iluminadas e feéricas de uma metrópole americana, sente-se a proximidade do perigo, de um terrível acerto de contas com a Natureza incinerada. O clima é de filme, um thriller de suspense, que se desenvolve até o desfecho forte, inesperado.
Beatriz começa sua jornada literária com instrumentos de ataque ninja: lances de realismo fantástico, imaginação afiada e lampejos de faca.
Raquel Naveira
Escritora