Acredito que a função da poesia é encontrar o Belo que reside e resiste em quase todas as coisas. E ainda que talvez nenhuma palavra, verso ou poema possa traçar uma noção justa do que foi e é viver dias como estes, a vida continua fluindo por entre as pedras de angústia e de temor que foram despejadas em quase todos os corações, e as palavras, ainda que desprovidas de muita grandeza e poder, continuam com a honrosa incumbência de acalentar o espírito alquebrado com algum sopro de Beleza. Nos infindáveis meses que seguiam permeados por solidão, expectativas e incertezas, eu me vi não apenas discorrendo sobre a amargura de uma fase repleta de nuvens tão escuras e ameaçadoras, eu estava como que caminhando por uma longa rua, uma rua de domingo, vazia, silenciosa, que em momentos passados foi o trajeto para tanto movimento e vida, e que em momentos próximos, possivelmente, voltaria a ser. Durante o caminhar, eu fui observando o que havia ao redor e o que vinha à tona de dentro. Coisas raras, ainda que simples, e repletas de encanto; e coisas não tão felizes, como não poderia deixar de ser, mas que de alguma forma anunciavam a força da vida e a promessa de dias mais iluminados. Este é um convite para caminharmos juntos por essas Ruas de Domingo através de prosas singelas com algum gosto de poesia. Estas prosas que nasceram por entre os tantos dias de isolamento, são retratos de dias inundados por sentimentos controversos de desalento e também de esperança, adornados com fragmentos de memórias, de ansiedade, de sonho, de amor e de espera. Sensações que, creio eu, em distintíssimas intensidades, todos conhecemos muito bem.