"Você sabe que também sou escritor?", perguntou Guimarães Rosa ao entregar um exemplar de Sagarana a Paulo Rónai, pedindo uma opinião. Os dois haviam se conhecido naquele mesmo ano de 1946, quando Paulo Rónai, chegado ao Brasil cerca de cinco anos antes, buscava incansavelmente trazer de Budapeste os membros da família que haviam sobrevivido ao tenebroso período da Segunda Guerra Mundial. O encontro entre o refugiado húngaro e o diplomata mineiro resultou em uma amizade próxima, pautada na admiração mútua, e em uma interlocução literária sem par. Ao longo de mais de três décadas, o crítico, tradutor, filólogo e professor Paulo Rónai acompanhou de muito perto a produção e a edição dos livros de João Guimarães Rosa e foi assim construindo de forma simultânea, com ensaios publicados em jornais, estudos, palestras e notas, um incomparável conjunto de crítica literária sobre a obra do grande ficcionista mineiro, publicado pela primeira vez neste livro.
A capacidade de decifrar os segredos e sentidos recônditos nos livros do autor de obras-primas como Grande sertão: veredas e Corpo de baile, fez com que os textos de Rónai passassem a integrar a maior parte das edições de Rosa, por escolha do próprio escritor, sempre surpreso e grato com as leituras desbravadoras do amigo. Tamanha era a afinidade entre esses dois homens das letras, que após a morte repentina de Rosa, em 1967, Paulo Rónai foi designado administrador de suas edições, organizando as suas obras póstumas, onde novos textos de sua autoria apoiavam a leitura – estes também aqui incluídos.
Dispersos em periódicos, edições avulsas e alguns ainda inéditos, os ensaios reunidos nesta edição confirmam Paulo Rónai como grande leitor e crítico de Guimarães Rosa e oferecem um verdadeiro roteiro para essa obra de encantamento infinito da literatura brasileira e mundial.