Esta obra consiste na abordagem do processo de urbanização romana da região do Noroeste da Hispânia, tendo por base a avaliação dos conhecimentos disponíveis propiciados pelas fontes escritas, epigráficas e arqueológicas. Para o efeito, foram selecionadas as capitais dos três conventos jurídicos do Noroeste peninsular, fundadas por Augusto, Bracara Augusta (Braga), Lucus Augusti (Lugo) e Asturica Augusta (Astorga), duas cidades de estatuto intermediário, que funcionaram como capitais regionais do conventus bracaraugustanus, Aquae Flaviae (Chaves) e Tongobriga (Freixo, Marco de Cavaneses), tendo sido igualmente avaliado o papel dos núcleos secundários, de caráter semiurbano, amplamente dispersos pelo território, denominados pelos termos de fora e vici.
Com o objetivo de enquadrar e problematizar o processo de urbanização romana no Noroeste da Hispânia, este livro desenvolve-se numa linha teórica voltada para a compreensão e desenvolvimento do conceito de romanização, desde a sua gênese, no século XIX, até a atualidade, tendo-se procurado igualmente valorizar o estudo do fenômeno urbano no contexto do quadro teórico e metodológico de recuperação do patrimônio material das cidades europeias do contexto pós-guerra.
Assim, numa perspectiva da ciência histórica, procurou-se desenvolver um trabalho de avaliação crítica dos dados disponíveis sobre a urbanização romana desta região através dos resultados dos estudos arqueológicos e epigráficos, articulados com a documentação textual antiga de autores que tratam do espaço territorial em questão. Neste sentido, se estabelece um panorama sobre a ocupação romana da Península Ibérica, enquadrado pelas razões político-estratégicas que podem ter estado na sua origem, procurando-se compreender o programa urbanístico de Augusto no quadro da reorganização administrativa que se segue às guerras cantábricas. Deste modo, buscou-se compreender os processos que justificam a criação das capitais conventuais e a posterior consolidação do urbanismo do Noroeste peninsular durante as dinastias Flávia e Antonina, que resultaram na integração das populações indígenas provinciais na esfera cultural do Império romano, analisando-se, com base nos estudos empíricos, a forma como se consolidou o elemento urbano enquanto instrumento catalisador dessa integração.