O jornalista e escritor Rodolfo Walsh foi militante revolucionário das organizações político-militares que reivindicavam o peronismo combatente vinculado às bases sindicais e às lutas políticas e sociais dos setores populares argentinos FAP (Fuerzas Armadas Peronistas) e Montoneros , quando foi assassinado em 1977. Organizou o semanário da CGT de los Argentinos, central sindical que rechaçava o sindicalismo pelego, e publicou várias obras, como o livro-reportagem Operação Massacre (1957), que inaugurou o jornalismo literário, Quien Mató a Rosendo? (1969), denunciando as patotas assassinas a serviço da burocracia sindical argentina, e Caso Satanowski (1973).
Deste livro de André Queiroz emerge o grande escritor, brilhante jornalista e combativo revolucionário, sua militância contra o terrorismo de Estado e o fascismo, que ainda nos ameaça.
Uma vida dedicada ao combate ao fascismo e todas as formas de terrorismo de Estado, assim poderíamos definir a trajetória do combatente político Rodolfo Walsh, intelectual que levou as últimas consequências o seu compromisso revolucionário, e que deixou uma obra fundamental para entendermos a história do fascismo de Estado na América Latina.
Em toda sua carreira, seja como jornalista, escritor, dramaturgo e militante político, Rodolfo Walsh mostrou ser homem do seu tempo, que não fugiu das lutas quando elas se apresentaram, e muito menos se acovardou como alguns de seus pares, como Jorge Luis Borges e Ernesto Sábato, que não apenas avalizaram como compactuaram com a sanguinária e criminosa ditadura que se instalou na Argentina entre 1976 a 1983.
Isso jamais ocorreria com Walsh, um homem que conviveu com perdas insuperáveis, como a do amigo e poeta Paco Urondo, e, principalmente, da sua filha, Maria Victoria, ambas em confrontos contra o exército. Apesar de toda dor da ausência e da perseguição que o levou a clandestinidade, Walsh nunca deixou de denunciar os crimes contra as camadas trabalhadoras, contra os que resistem e os que lutam.
É por isso que as páginas de Rodolfo Walsh, a palavra definitiva, escritura e militância, do escritor, filósofo e cineasta André Queiroz, são fundamentais para compreendermos a vida e a obra desse importante personagem da história latino-americana, assim como as causas do histórico processo de repressão em nosso continente, e suas ações na contemporaneidade.
Bento Vilela
André Queiroz é Professor Titular do Instituto de Arte e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense. Escritor, ensaísta e documentarista. Dirigiu, em parceria com Arthur Moura, El Pueblo Que Falta (sobre a violência de Estado na América Latina e as formas históricas da insurgência) e Araguaia, Presente! (sobre a Guerrilha do Araguaia e a autocrítica interna ao processo revolucionário em Brasil)."