Resultado de um levantamento realizado a partir de jornais publicados no Rio de Janeiro durante os anos de construção de Brasília (1956-1960), esta obra busca entender como foram moldados os mitos e as narrativas sobre a mudança da capital para o Planalto Central. O panorama social brasileiro era formado por um conjunto de contradições em que o novo, o moderno e o avançado conviviam com o velho, o antiquado e o atrasado numa desconformidade tensa e dramática que se prolongaria por muitas décadas. A cidade do Rio de Janeiro foi uma das representações mais emblemáticas desse processo histórico de evolução.
Entre 1956 e 1960, a imprensa do Rio de Janeiro, de um lado, desprezava a nova capital localizada no "nada" do Planalto Central, produzindo matérias e reportagens que davam conta das dificuldades que cercavam a sua edificação. O pessimismo era o tom (quase) permanente das notícias. Por outro lado, os jornais lamentavam as perdas que seriam sentidas pelo Rio de Janeiro, considerando-as injustas, demonstrando, ao mesmo tempo e de modo contraditório, certo despeito pela transferência da capital. Em meio à depreciação em relação à mudança, apareciam, porém, notícias e relatos obre as muitas agruras da então capital federal, que apontavam questões raramente contempladas nos editoriais e textos de opinião.
Este ensaio fala das contradições desse Rio de Janeiro, propondo uma reflexão que vá além das narrativas e dos mitos que se criaram em torno da transferência da capital — a cidade sempre foi complexa, dura e violenta.