Esta é uma obra que reflete sobre a perspectiva da transformação. Não é um relato didático, mas uma autocrítica e uma reflexão sobre os descaminhos trilhados com a finalidade de encontrar uma identidade pujante, que mostram a luta interna como uma busca
incessante. A seu modo, as poesias se entrecruzam e partilham conosco os momentos em que o poeta rompe a casca bruta da vida para irromper um trabalho que se permite ser uma construção.
O fato de o processo edificar, ao final, uma personalidade, significa que este livro será parte de um encontro consigo leitor, pois a cada leitura que fará, em cada verso, encontrará uma parte de si mesmo. Portanto, permite uma identidade mútua entre aqueles
que, silenciados desde a tenra infância, poderão encontrar sua voz junto com o poeta, em compreender o que significa a negritude numa sociedade que não permite que negros sintam, amem, escolham, tenham identidade, limitando seus corpos a espaços neutros.
É importante frisar esse ponto, este não é um livro neutro. É um grito, que ora se escuta ao longe. É um gemido, que ora não se percebe. É um sussurro que se espraia pelas esquinas e explode na rua. É poético-político. Tem lado, o escolhe e não se oprime. Jamais tácito, mas lúcido quando objetiva criar quilombos com novos discursos para que todos sintam-se parte, sem partir.